01 Feb Organização, Marie Kondo e Gratidão
Senta que lá vem história! Esse texto deveria ter 300 palavras, mas eu não consegui reduzir e deixar de contar como a organização, ao mesmo tempo que me ajudou, me criou outros problemas (e como foi perceber isso, encontrar um caminho do meio e descobrir a gratidão). Só me resta torcer para vocês, que chegaram até aqui, leiam tudo.
Era pré-maternidade
Eu descobri a organização em 2011, quando eu sai da casa dos meus pais e percebi que tinha muita dificuldade em fazer coisas manuais em casa. O fato de um não conseguir me concentrar em nada por mais de 2 segundos também não ajudava. Em paralelo a isso eu tive uma depressão que só depois de sair é que entendi que chorar todos os dias não era normal e que ficar deitada imaginando como seria estar cuidando da casa, por exemplo, também não era.
Comecei uma busca pra resolver aquilo que me incomodava e nem sabia ao certo o que exatamente era, mas achei uma boa ideia começar organizando melhor as coisas ao meu redor. Comecei a procurar métodos de organização e achei o GTD (organização de tarefas e projetos), o Fly Lady (organização de rotinas de limpeza da casa) e o Pomodoro (método para focar em uma tarefa por pelo menos 25 minutos). Achei aquilo tudo perfeito, e cai dentro. Comprei os livros, li, anotei, implantei tudo. Tava tudo indo bem. Grande revolução!
Na mesma época conheci o blog Zen Habits que meio que usava um GTD Zen e clamava por tempos de silêncio e pequenas rotinas usando atenção plena e como implantar novos hábitos. Comecei também a fazer exercícios físicos, a correr todos os dias. Tudo naquele ano, além de 2010 – 2011 ter sido o ano de transição em que sai de uma empresa como funcionária e comecei como sócia.
Sabe o que aconteceu comigo no ano seguinte? Como eu levava aquilo tudo MUITO a sério e achava que minha maior qualidade era saber executar bem as coisas que me propunha a fazer, eu surtei quando um dia ficou sem luz na empresa e eu tinha relatórios para entregar. Algo não estava certo. O ano era 2012, e eu tive que procurar algo para me ajudar a lidar com isso: descobri o CEBB e comecei a meditar.
O aprofundando na espiritualidade e na meditação me trouxe outra forma de ver o mundo. Percebi que essas metodologias todas me deixavam ansiosa, porque basicamente tudo que você vê e existe é uma tarefa que deve ser realizada e anotada. Tudo deve ser resolvido. Pelo menos eu encarava dessa maneira. Dei TILT. Porque no fundo eu sei que as coisas não são e nem deve ser assim.
Eu me sentia o tempo todo muito sobrecarregada porque achava que tinha que resolver tudo que meus sentidos fizessem contato e eu julgasse como errado ou que pudesse ser melhorado. E eu fui bem a fundo com isso, era bem obcecada em organizar, categorizar, nomear, limpar, resolver. O resumo é que EU NUNCA DESCANSAVA. Eu ocupava todas minhas horas livres e tudo que eu olhava era sempre com um olhar crítico. Ou seja, sai de um extremo e fui pra outro. A ficha foi caindo. Isso não estava fazendo bem pra mim e nem pros outros ao meu redor. Eu praticamente resolvi um problema com outro problema. Deve ser porque sou escorpiana e coloco muita intensidade (risos).
Resolvi abandonar praticamente tudo relacionado a metodologias de organização. Isso aconteceu quando sai do meu ultimo trabalho para ter a Alice. O ano era 2016.
Era pós-maternidade
Constatei bem rapidinho que as coisas ficam meio caóticas sem organização nenhuma e isso me trouxe um meio termo: voltei só com o Bullet Journal e até o momento sigo assim.
PORÉM
Desde o momento que soltei demais, comecei a ter muita dificuldade em organizar minhas horas de lazer, trabalho e atividades domésticas fazendo HOME OFFICE. A balança sempre está pesando mais para um dos lados: ou a casa está bem ou trabalho está em dia ou a cria não está chorando. E assim, cuidar da casa era sacal, era um obrigação.
Com uma psoríase (ou equivalente, que preciso ainda diagnosticar) comecei a sofrer ao fazer as coisas: como, por exemplo, cuidar das roupas, porque minhas mãos estão sempre descansando e rachadas, doloridas, as roupas enroscam ou coçam muito se eu encosto em roupas guardadas. Essa condição de pele me obriga a usar luva pra tudo… pra limpar qualquer coisa e isso me faz procrastinar. Quando a gente procrastina a casa te lembra o que você deveria ter feito. O dia seguinte fica basicamente: Acordar com aquela pilha de roupas te esperando (minha pedra no sapato), louças, limpeza a fazer, uma lista de coisas do trabalho que era para ser entregues ontem e uma criança com um gênio que não-sei-pra-quem-puxou que levanta da cama chorando e só acaba de reclamar e chorar um pouco antes de sair pra escola, as compras que precisam ser feitas, a refeição que precisa ser decidida. Inclua isso tudo em outro país e voilá, sentirá um pouco da carga, risos.
Today is THE day
(Hoje é O dia)
Não quero reclamar aqui. Quero mostrar uma coisa que aconteceu comigo e que mudou um pouco essa visão. Esse post está sendo escrito no futuro com base num texto que escrevi há uma semana e o que vou dizer a seguir ainda está funcionando muito bem. Faz de conta que você não sabe que estou escrevendo depois disso e lê como se fosse o dia da descoberta:]
Onde quero chegar é: o dia de HOJE!
Hoje eu vi que saiu a série da Marie Kondo na Netflix e eu quis assistir. Não estava esperando MUITA coisa, mas logo no fim do primeiro episódio caiu a ficha mais ficha de todas: AGRADECER.
Gente, isso tá escrito em todos os lugares, gratidão é a base de tudo. Por que eu nunca tinha me ligado disso?
Enquanto faz as coisas, AGRADECER por aquilo. Por aquela roupa que usei, por aquele prato que comi, por aquele casaco que me esquentou. Se alegrar! Se alegrar com tudo aquilo que você tem. Quantas e quantas pessoas estiveram envolvidas para que eu pudesse estar escrevendo aqui e agora e quanto benefício isso me trás? Quais momentos amorosos e alegres aquilo proporcionou pra mim?
Eu senti uma alegria. Senti uma gratidão, de verdade. Uma vontade de envolver quem estiver por perto nisso e de ensinar a Alice que precisamos agradecer tudo que nos rodeia. A vontade agora é de lavar cada taça de vinho agradecendo o momento feliz que ela trouxe.
EXPERIMENTE!
Experimente reverenciar seu lar como sua proteção, como seu ninho. Experimente limpar aquele cantinho como forma de carinho e consideração por aquilo que foi resultado do trabalho de tantas pessoas e que agora você pode usar. É um hábito. Pode ser que você esqueça as vezes… tudo bem! Mas quando estiver chato ou perceber aquela tensão por não querer fazer, experimente trocar esse olhar. Pegue cada roupa e enquanto dobra traga lembranças boas relacionadas com ela. Agradeça. Lave o prato, lembre, agradeça. Varra as migalhas do chão, lembre, agradeça. Limpe o vidro sujo da gordura do lanche que sua filha comeu, agradeça. Aspire o tapete cheio de farelo de biscoitos que ela segurava enquanto dançava na frente da TV, agradeça. Limpe o vidro do box cheio de manchas de água daqueles banhos gostosos e quentinhos que você tomou, agradeça.
Obrigada, Marie Kondo por me fazer cair a ficha de algo que já tinha visto e lido em tantos livros.
Ainda não sei como essa nova visão vai influenciar na minha organização de um modo geral, mas ao menos na hora de ver uma pilha de roupas ao invés de sofrer ou me autocriticar, posso me limitar a agradecer e fazer o meu melhor 🙂 Acho que isso já vai criar uma GRANDE diferença no meu humor, na minha energia e no que posso levar para as outras pessoas, estejam elas relacionadas ao trabalho ou as que estão mais próximas.
No Comments