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Força, Foco e Fé - Oxitocinas
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Força, Foco e Fé

Força, Foco e Fé

Em abril de 2015, posso dizer que eu renasci. Por longos quarenta dias, permaneci em coma devido a uma intoxicação por lítio, um medicamento que tomava desde os vinte um anos quando fui diagnosticada bipolar. A maioria dos médicos, enfermeiros e familiares não acreditava que eu iria sobreviver, pois o que acontece com quem se intoxica por lítio é morrer ou ficar aleijado. Comigo não aconteceu nem uma coisa nem outra.

O tempo em coma me trouxe sequelas neurológicas que, por Deus, são reversíveis. Voltei à consciência sem andar (pois perdi toda a musculatura do corpo) e ainda sem falar (disartria é um distúrbio da fala comum a quem se intoxica). Também fiquei com ataxia (minha cabeça tinha movimentos involuntários 24 horas – para eu comer era necessária a ajuda de alguém segurando-a para que eu mirasse uma garfada na boca.).

Outra sequela foi uma neuropatia periférica que me fazia gemer e chorar de dores nos pés e que também me tirava o sono. Analgésicos não adiantavam, pois não era problema muscular e sim neurológico.
Para me comunicar, eu passei alguns meses escrevendo uns garranchos (a coordenação era ruim), pois ninguém entendia os poucos fonemas que eu balbuciava. Era desesperador!
Hoje, com 40 anos estou literalmente me reconstruindo. Como uma criança recém-saída das fraldas, chegou a hora de aprender a andar.
Pois é… dizem que a vida começa aos 40 e é exatamente o que está acontecendo comigo. Estou me redescobrindo e quantas coisas eu tive que reaprender…
Aprendi a respirar sem auxílio de aparelhos. A engolir sem engasgar, a ficar de pé, a andar (ainda que seja como uma criança de dois anos… mal me equilibrando… por enquanto…), aprendi a escrever e minha letra já melhorou bastante. Aprendi a beber líquidos sem auxílio de canudos. Já tenho força suficiente para segurar o copo de vidro e até lavo as louças. Antes eu precisava de ajuda até para me virar na cama e agora já o faço naturalmente. Até varro minha casa me apoiando na vassoura e a deixo limpinha com mais facilidade. Coisas tão simples e automáticas de se fazer que, no decorrer do dia, ninguém dá o mínimo valor.
Lembro-me de como era desagradável cada hora um estranho me dando banho… Mesmo sentada, eu não conseguia me ensaboar nem levantar a perna para lavar os pés e muito menos me depilar e agora já o faço e de pé. Usava fraldas… que desconforto! Além do que, parecia impossível me vestir sozinha… Que longo caminho percorri para chegar onde estou. Sou grata!
Toda descoordenada, não conseguia escovar os dentes e quando comecei a escová-los, não podia entrar no banheiro, pois a cadeira de rodas não entrava nele. Era à base da canequinha e um recipiente com água. E olha agora… não só escovo meus dentes de pé, sozinha, como também tenho a coordenação necessária para me maquiar! Que alegria!!!
Em um ano, passei pela cadeira de rodas, pelo andador, pela bengala de quatro apoios e, atualmente, uso uma bengala de apenas um apoio. Há bem pouco tempo, meu sonho era ter autonomia para atravessar uma rua e agora já arrisco uns passinhos até a padaria! Tudo bem que ainda não sinto confiança para subir e descer a calçada, me desequilibro… mas,  calma! Eu também vou vencer essa etapa.
E o que dizer da minha fala? Ela está inteligível agora. Um tanto quanto arrastada e anasalada, mas sei que, treinando com afinco, ela vai melhorar mais e mais…
Quando saí do hospital, recebi centenas de mensagens carinhosas para que tivesse força, foco e fé. E é nisso que me agarro. Tive que encontrar forças dentro de mim mesma, focar no meu tratamento (muita fisioterapia e fonoaudiologia), ter fé em Deus, no Universo que conspira a favor e fé em mim mesma!
O apoio da família foi e ainda é primordial. Em momento algum me senti sozinha!
Até os meus 39 anos, levei uma vida de extrema auto cobrança e um exacerbado perfeccionismo em praticamente tudo que ia fazer. Agora, isso caiu por terra, até porque, nesse momento, não posso exigir trabalhos com demasiada perfeição já que não tenho a mesma coordenação de antes. Contudo, por incrível que pareça, apesar das minhas limitações, a vida está mais leve. Coisas que antes tomavam uma super dimensão, hoje em dia se tornaram tão pequenas.
Olho-me com mais carinho, com mais compaixão. Aceito essas limitações e creio que vou melhorar a cada novo amanhecer. Estou vencendo cada etapa e hei de ficar curada. É esse meu prognóstico! Acredito! Todos os médicos diante das ressonâncias afirmaram que as lesões no meu cérebro são reversíveis. Houve até um deles que disse que “o cérebro encontra seu caminho”. E é isso que está ocorrendo. Há que se ter paciência e confiança.
Tudo que quero é reconquistar a autonomia para voltar a andar naturalmente e a falar minha língua materna fluentemente. E eu hei de conseguir!

 

“Hoje, estou melhor do que ontem e não tão bem quanto amanhã!”

 

Maria Beatriz Campos

“Maria Beatrisz , 40 anos. Seu hobbie é praticar esportes radicais como escalada, arvorismo e voo-livre. Aos 38 anos teve uma grave intoxicação medicamentosa, o que a levou ao coma por mais de um mês e a fez perder o equilíbrio e a coordenação motora. Atualmente, está reaprendendo a andar, a falar e a coordenar os movimentos e se supera a cada dia, se reinventando com persistência e fé.”

 

(Coluna Oxitocinas – E vamos inspirando  umas às outras!)

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